Ao ler este conteúdo, você chegará à conclusão de que a transformação digital nas empresas não é apenas uma opção para se posicionar no mercado.
Você vai entender que esse é único caminho para que sua empresa permaneça relevante em seu mercado – não importa o setor em que a organização atua.
No entanto, reconhecer a importância da transformação digital nas organizações é apenas o primeiro passo nessa longa jornada. A verdade é que muitas empresas tomam a decisão de alinhar suas operações à era digital. Mas são poucas as que conseguem passar por esse processo de maneira eficiente e com resultados satisfatórios.
Um levantamento feito pela consultoria McKinsey revelou que 70% dos programas de transformação digital de larga escala falham. Segundo o estudo, existem motivos para isso.
As 4 principais razões para resultados decepcionantes na transformação digital das organizações são a falta de:
- Engajamento dos colaboradores;
- Suporte – ou o suporte inadequado dos líderes;
- Colaboração entre diferentes áreas e funções;
- Mudanças culturais necessárias para que a transformação digital se sustente.
Agora, pare e analise essa lista. Veja quantos desses fatores são relacionados à tecnologia.
Pois é. Grande parte das questões que impactam o sucesso da transformação digital nas empresas está ligada aos processos e talentos em torno das tecnologias. E não às ferramentas em si. Algo que, aliás, já foi amplamente debatido nas páginas anteriores.
Ou seja, o seu papel como líder – tanto ao gerenciar e direcionar processos e tarefas quanto ao atrair, capacitar e colaborar com os profissionais – é uma das questões mais importantes para que a transformação digital em sua empresa efetivamente se torne realidade.
Então, a pergunta que fica é:
Como liderar uma transformação digital mas empresas com sucesso?
É sobre isso que falaremos neste artigo.
A seguir, confira os conselhos de dois especialistas nessa área que ajudarão a direcionar suas ações e decisões ao guiar seu time e sua empresa para a era digital.
Principais erros dos gestores em relação à transformação digital nas organizações
Como você responderia à pergunta: “O que é transformação digital?”.
Muitas pessoas ainda associam esse termo ao processo de digitalização das operações da empresa.
- Por exemplo: criar um site, atuar nas redes sociais, usar ERP etc. E, como você já viu nos conteúdos que leu antes de chegar até esta matéria, esse é um dos erros que podem fazer com que o processo de transformação digital nas empresas já comece de maneira equivocada.
Afinal, por mais que a digitalização dos processos faça parte da transformação digital das organizações, de nada adianta utilizar ferramentas tecnológicas se a empresa ainda pensa e age com uma mentalidade analógica.
Em última instância, essa noção errada da liderança da empresa sobre o que realmente envolve a transformação digital se tornará o principal entrave na jornada da organização rumo à era digital.
Achar que transformação digital nas empresas é apenas sobre tecnologia. É isso que faz com que muitas companhias não consigam efetivamente entrar para a era digital.
Isso porque essa visão gera erros de liderança.
Os 3 grandes erros de liderança na transformação digital nas empresas
1. Ignorar a importância do papel do cliente na transformação digital das organizações
Paulo Kendzerski, especialista em implantação de projetos de Transformação Digital e Presidente do Instituto da Transformação Digital (ITD) detalha que a transformação digital é transformação do modelo de negócio como um todo. E deve ter como base a experiência do consumidor da era digital.
“É uma mudança estrutural que inicia com o entendimento dos líderes sobre o futuro dos negócios. É a evolução dos processos internos e os novos modelos de operação na era do consumidor conectado. É um processo no qual as empresas fazem uso da tecnologia para aumentar seu alcance, melhorar o desempenho e assim, obter resultados melhores”, aponta.
Jair Romano Junior, Head de Transformação Digital da ACE Startups e especialista em Transformação Digital, Metodologias e Cultura Organizacional, complementa.
Ele destacando que a transformação digital tem o objetivo de capacitar as organizações a terem processos mais ágeis, flexíveis e alinhados à velocidade das mudanças de mercado e das demandas do consumidor atual.
“Significa que a empresa terá que desenvolver a capacidade de se organizar, se adaptar, mudar rapidamente e ter sucesso em um ambiente mutável, incerto e turbulento – como em uma pandemia inesperada, por exemplo. Implica, primeiramente, entender que seu verdadeiro chefe é o cliente, e que toda a jornada de transformação digital nas empresas deve tê-lo como protagonista”, salienta.
2. Falta de adequação do time, da cultura e dos processos
Romano destaca que, no início deste movimento, a transformação digital era vista apenas como um fenômeno que buscava incorporar uso de tecnologias digitais em problemas tradicionais. Porém, essa visão mudou com a evolução do mercado.
“Transformação digital não é apenas sobre tecnologia, é sobre pessoas. Do que adianta digitalizar todo o seu negócio e esquecer do protagonismo humano neste processo?”, questiona o especialista.
Ele complementa dizendo que toda a empresa precisará passar pela adoção de novas tecnologias. Porém, a implementação de ferramentas deverá vir acompanhada de uma metodologia estruturada e da revisão das metodologias organizacionais.
Daí a importância de uma liderança focada na capacitação do time e na adaptação da estrutura organizacional.
Nessa mesma linha, Kendzerski defende que, por ser algo que envolve toda a empresa, principalmente na adequação ou evolução dos seus processos, fica cada vez mais claro que a transformação digital é uma transformação do negócio – e que, por isso, exige a participação ativa dos seus líderes.
3. Falta de visão estratégica sobre a transformação digital nas empresas
Segundo Kendzerski, um estudo realizado pela ITD com mais de cinco mil empresas brasileiras identificou que o principal erro das organizações em relação à transformação digital é acreditar que a digitalização do negócio é suficiente.
O especialista esclarece que esse problema pode ser visto em negócios que adotam ferramentas digitais, mas continuam atuando na lógica do mercado analógico.
Ele ilustra esse raciocínio contando que na pesquisa feita pelo ITD, 90% das empresas disseram utilizar o WhatsApp como ferramenta de comunicação. Contudo, 99,9% delas continuam atendendo em horário comercial.
Como consequência, por acharem que apenas digitalizando seus processos já estarão preparadas e adequadas para acompanhar as movimentações do mercado digital, essas organizações deixam de identificar oportunidades e riscos que afetam diretamente a sobrevivência do negócio como um todo.
“Mesmo empresas que hoje têm um bom posicionamento no mercado e são financeiramente saudáveis, com ótimos resultados em vendas, precisam planejar sua transformação digital, sob a pena de que em cinco ou dez anos podem deixar de ocupar as posições atuais de liderança”, avalia.
- O marketing digital é uma tendência de transformação. Veja como usar em sua empresa:
Habilidades fundamentais para o líder digital
A transformação digital em uma empresa começa “na cabeça” dos líderes. Ou seja, é a mentalidade inovadora, flexível e aberta do gestor que vai guiar os processos e os colaboradores para a era digital.
Romano indica que para que esse processo possa acontecer, as organizações precisam de um tipo completamente diferente de líder:
“Um líder transformador, que tenha a capacidade de formar equipes interdisciplinares, manter as pessoas motivadas, conectadas e engajadas, que impulsione a cultura da inovação, tenha tolerância a riscos e cultive a melhoria contínua”, detalha.
Observe que as competências listadas pelo especialista não necessariamente têm a ver com conhecimento sobre tecnologias. O que ele está propondo é que para liderar uma transformação digital na organização com sucesso, o líder precisa ter habilidades especialmente focadas em capacitar, empoderar e direcionar a equipe.
Um levantamento desenvolvido pela MIT Sloan Management Review em parceria com a consultoria Deloitte com mais de 4.300 executivos ao redor do globo comprova essa visão do líder digital com habilidades mais humanas e flexíveis.
Na pesquisa, os profissionais entrevistados citaram as seguintes habilidades que eles gostariam que seus líderes tivessem durante a transformação digital da empresa:
- Direção: oferecer uma visão e um propósito claro para a transformação digital (26%)
- Inovação: criar condições adequadas para as pessoas experimentarem (18%)
- Execução: empoderar e motivar as pessoas a pensar diferente (13%)
- Colaboração: ajudar as pessoas a colaborarem entre diferentes áreas (12%)
- Inspiração: inspirar as pessoas e motivá-las a seguir a liderança (10%)
- Visão estratégica: tomar decisões de negócio em contextos incertos (8%)
- Construção de talento: apoiar continuamente o desenvolvimento das pessoas (7%)
Como atrair, formar e apoiar o talento para a transformação digital organizacional?
Para verdadeiramente capacitar a equipe para a era digital, Romano indica que o líder deve fomentar a liberdade intelectual dos profissionais, estabelecer autonomia como padrão, escolher indivíduos com fit-cultural e inspirar seus liderados a terem sentimento de dono.
“Aposte no poder da inteligência coletiva e promova a liberdade, pois ela é a chave para desbloquear o potencial das pessoas. Além disso, acabe com o comando e o controle, pois esse formato mata a inovação e a agilidade”, frisa.
Kendzerski concorda com essa visão e reforça que é fundamental dar liberdade para inovar.
“Mas liberdade de verdade. Não aquele modelo de caixinha de sugestões, que vão ser avaliadas por alguém com mentalidade analógica, que está mais interessado em preservar seu cargo do que em transformar o negócio”, alerta.
Ele orienta ainda que, além da liberdade de inovar, é necessário investir em modelos disruptivos de capacitação, seja no ambiente interno, como no externo.
Por fim, Romano sugere que para identificar os colaboradores mais preparados para acompanhar a transformação digital, o líder precisa ficar atento aos perfis dos profissionais.
Perfis de profissionais para a transformação digital nas organizações:
- Colaborativos: que colocam a mão na massa e ensinam de maneira hands-on;
- Especialistas: que têm profundo conhecimento em sua área de atuação e podem contribuir na melhoria de processos;
- Skin in the game: que arriscam a própria pele e têm sentimento de dono em suas tarefas;
- Empreendedores: aqueles profissionais que sempre propõem uma ideia e que têm desejo de levar a sua área para um próximo nível.
Já na hora de contratar, os dois especialistas indicam que é importante buscar algumas competências específicas nos profissionais.
Romano comenta que, segundo o Fórum Econômico Mundial, as principais habilidades dos profissionais do futuro serão:
- Alfabetização de dados;
- Pensamento crítico;
- Habilidade em tecnologia;
- Adaptação e flexibilidade;
- Criatividade;
- Inteligência emocional;
- Inteligência cultural e diversidade;
- Habilidades de liderança;
- Julgamento e tomada de decisão;
- Colaboração.
“Mas, uma qualidade que me chama atenção em um profissional é a coragem. Se as empresas não tiverem em suas equipes pessoas dispostas a dar o primeiro passo, coisas grandiosas não vão acontecer”, explica.
Já o presidente do ITD indica que o perfil do profissional do futuro é formado pelas seguintes competências:
- Pensamento crítico: Atitude desafiadora para identificar oportunidades de geração de valor para as empresas.
- Flexibilidade cognitiva: Capacidade de adaptação do cérebro às situações em constante transformação para resolução de problemas complexos. Capacidade de julgamento e tomada de decisões para diferentes modelos de negócios.
- Execução inovadora: Mais foco na execução do que na ideação, além da capacidade de negociação para atingir os objetivos propostos.
- Conhecimento do comportamento humano: Liderança, inteligência emocional, gestão de pessoas e trabalho em equipe.
- Criatividade: Inventividade, inteligência e talento (natos ou adquiridos) para criar, inventar e inovar, em várias áreas.
4 dicas para colocar sua empresa no caminho da transformação digital
1. Comece pequeno e teste antes de escalar
Romano indica que a transformação digital deve ser tratada como um processo evolutivo.
“Meu conselho é começar pequeno, sonhar grande e escalar rápido. Defina uma área, onde existem os maiores problemas, aplique métodos, automatize os processos, promova a cultura da inovação, implemente melhoria contínua, colha os resultados, aprenda com eles e vá para a próxima”, recomenda.
O especialista comenta ainda que a área de Vendas pode ser protagonista nesse processo.
“Comece consolidando a forma de atendimento aos clientes e aplique conceitos de Social Selling em seus processos automatizados (com chatbots, por exemplo) para ter respostas rápidas aos anseios do cliente”, sugere.
2. Siga a tríade: velocidade, agilidade e alcance
Para Kendzerski, um vendedor que não estiver preparado para utilizar as ferramentas digitais para fazer mais negócios, estará fora do mercado muito em breve.
“Conheço muitos vendedores que utilizam como ferramenta de vendas apenas suas pernas. Ou seja, eles até vendem bem, mas dependem exclusivamente da sua capacidade de visitar os clientes, sentar à mesa e negociar”, reflete.
Segundo o especialista, o vendedor da era digital precisa ser guiado por três fatores fundamentais:
- Velocidade: para atender às demandas dos clientes conectados 24 horas por dia;
- Agilidade: para mudar de estratégias e se adaptar às mudanças do mercado;
- Alcance: para encontrar e ser encontrado pelo consumidor em diferentes canais.
Então, leve isso em consideração ao adaptar os processos da área comercial e capacitar seu time para a transformação digital.
3. Pense como uma “empresa digital”
“Em um futuro próximo, não existirão mais empresas divididas por categorias. Todas serão empresas digitais, atuando em vários segmentos sem dominar os estágios do negócio (produção, distribuição, vendas, atendimento)”, prevê o presidente do ITD.
É por isso que ele indica que, para realizar a transformação digital nas empresas, os líderes precisam deixar de pensar apenas como gestores do seu segmento – como o diretor de uma rede de varejo, ou como o líder comercial de uma indústria, por exemplo – e passar a pensar como uma empresa digital.
Na prática, isso significa estar sempre buscando entender as implicações de novas tecnologias e tendências digitais no mercado. E também no comportamento dos consumidores em diferentes segmentos.
Afinal, mesmo que uma tecnologia ainda não tenha afetado seu negócio, não significa que as transformações causadas por ela não impactarão as demandas dos seus clientes.
Basta pensar, por exemplo, na digitalização dos processos no varejo. Porque os consumidores têm tanta facilidade em comprar produtos variados na web, eles também passam a ter a expectativa de poder consumir serviços diversos (inclusive para suas empresas) com a mesma conveniência e agilidade. Dessa forma, um movimento que começou no B2C termina impactando diretamente as vendas em empresas do mercado B2B.
4. Crie um comitê de transformação digital
Mesmo empresas que não convivem com tecnologias emergentes, destaca Kendzerski, precisam ter um grupo de profissionais pensando no futuro, constantemente.
“Transformação digital não é um projeto com início, meio e fim. É um processo que irá mudar os procedimentos internos e, consequentemente, o modelo de gestão”, frisa.
Nesse sentido, o especialista sugere que se crie um comitê de transformação digital, reunindo pessoas de várias áreas e cargos.
“Recomendo também que o líder acompanhe os cases que já estão surgindo, de várias áreas, para entender o que foi feito e como ele pode utilizar esse conhecimento para transformar seu negócio”, propõe.
- Artigo cedido pela Revista VendaMais. Todos os direitos reservados – Por Francine Pereira.